segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Recriminando! Socorro!

Sábado à noite minha mãe me deu um vale-saída (♥ ;) ) e ficou com Lia por algumas horas. Tudo certo até chegar a hora de dormir. Depois de séculos de historinhas, musiquinhas, ninar, musiquinha de novo, Lia finalmente estava adormecendo na cama. Aí veio aquele espirro incontrolável e minha mãe soltou um 'atchim' baixinho. Claro que Lia abriu o olho na mesma hora. Impaciente, vira pra minha mãe e diz:

- Pronto, acordou a criança! ¬¬'

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Procurandon Nemon

Lia pediu para ver a história de Nemon. Sabe, aquela história que o homem pega o Nemon e leva ele embora e aí o papai do Nemon vai com a amiguinha Doriana salvar ele do aquareon.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Vira um passarinho

funchap.com


- Tudo é possível?
- Sim.
- Quer dizer que é possível você virar um passarinho agora mesmo e sair voando?
- éééér...sim. É possível.
- Então vai, vira aí um passarinho.
(silêncio)
- Eu não posso.
- Então não é possível.

Até hoje me lembro de uma aula de filosofia que assisti na 4ª série. Durante um hiato de 6 meses em que viemos viver no Brasil, fui colocada em uma escola de freiras onde, vocês podem imaginar, a educação era bem tradicional. Por sorte foram só 06 meses. Durante essa aula, o professor foi de aluno em aluno com a seguinte pergunta: Você acha que tudo é possível?

E eu me lembro que todos nós, sem exceção, dissemos que sim. E ele pediu para justificarmos e houve uma explosão de justificativas lindas de crianças de 11 anos. Aí então ele foi de aluno em aluno, perguntando novamente se tudo era possível. Mediante as respostas afirmativas, ele voltava com "Quer dizer que é possível você virar um passarinho agora mesmo e sair voando?". O que responder? Oras, para não perder a moral, responde que sim! E aí o professor volta com "Então vai, vira aí um passarinho". E todos os alunos, todas aquelas crianças de 11 anos, que acreditavam sinceramente que tudo era possível, no auge da fertilidade de suas imaginações, se viram obrigados a dizer que não era possível.

Eu não me lembro do restante da aula, não lembro qual era o objetivo que ele tinha de discussão e muito menos o que aprendi de positivo nesse dia. Lembro que, depois disso, virou uma febre na sala de aula de dizer que as coisas não eram possíveis. As brincadeiras, por um tempo, deixaram de ser fantasiosas e viraram duras e reais, baseadas em o que era plausível. Foram meses até que se abrandassem e voltassem a ser relativamente mirabolantes.

Durante muito tempo pensei nessa pergunta, ainda criança, e fiquei imaginando maneiras de virar um passarinho para provar a ele que ele estava errado. Que tudo era, sim, possível. Porque na imaginação de uma criança, tudo é possível. E isso não é assunto para professor questionar jamais.

Por essas e outras nós já sabíamos que Lia não estudaria em uma escola tradicional. Tirando essa experiência, eu tive a sorte de passar meu ensino fundamental sempre em escolas alternativas. Giba não teve tanta sorte e passou a vida detestando ir à escola, sofrendo com a falta de incentivo criativo dentro do sistema de ensino e se desinteressando por tudo que viesse desse ambiente. Ele, que hoje vive com o nariz colado dentro de livros e faz mestrado em Letras, até o final da adolescência destetava ler. Quer dizer, de que adianta essa ansiedade toda pra ensinar as crianças a lerem com 02 anos de idade se de ali em diante vai virar uma obrigação e não um prazer? E de que adianta passar no vestibular - foco-mór da vida desde que se entra no maternalzinho - se se passou 16 anos vivendo infeliz? Aprendeu o que pra vida?

Isso sem falar no desrespeito total à individualidade e ao tempo de de cada aluno (até parece que nasce todo mundo com o cérebro de fábrica que absorve tudo no mesmo ritmo e frequência), ao estresse que se impõe com as avaliações, ao desamparo do sistema, à indiferença do corpo docente, à falta de inclusão dos que não acompanham o padrão imposto pelas escolas. Resulta em? Um monte de gente insegura e insatisfeita com a vida, que precisa esperar anos para ter o direito de se descobrir. Que precisa de um tempo para respirar e pensar no que querem. Que precisam se dar o direito de se inventar e reinventar porque, bicho, passar esse tempo todo comparado e forçado a ser igual a todo mundo não é fácil. Às vezes tem os que descobrem mais tarde que querem ir pra faculdade, outros que descobrem que nunca quiseram, outros que precisam sair do país para se encontrar. Não importa quando ou como, o importante é buscar se realizar. Mas bem que eles podiam ter o direito de fazer isso durante a escola, né não?

Haja culhão pra lidar com tanta caixinha de ferro.








segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Confiança é uma arte



Dia desses eu estava procurando um texto para me sentir melhor após o que só poderia ser descrito como um ataque de nervos. Um assunto levou a outro e me deparei com um especificamente que falava sobre a experiência de relacionamento de uma mulher com um de seus namorados. Ela se intitulava de conflituosa e complicada, sempre encontrando problemas em seu relacionamento, explodindo de fúria e depois se sentindo culpada pois acreditava que era tudo uma tempestade criada por ela. Creiam que eu me identifiquei com ela.

Mas não me vi atualmente, e sim antigamente.

Uma pessoa que, em todos os seus relacionamentos interpessoais, se sentia responsável por criar os conflitos internamente e descontá-los nos outros. Sempre a pessoa que pedia desculpas primeiro, morrendo de ansiedade para que aquele mal-estar acabasse. Sempre acreditando que estava errada ou exagerada. Em alguns momentos eu realmente estava muito errada, mas nós não estamos falando de uma pessoa com visão crítica de situações em que se via errada e outras na razão. Estamos falando de TODAS as situações eu me vendo errada. Com o passar do tempo, aprendi a dominar meus sentimentos de raiva, injustiça ou ciúmes e não expô-los. Como aquela moça no ônibus, aprendi a viver em uma aparente indiferença, inabalável e sempre positiva. Escutava pacientemente as reclamações e, muito calma, me desculpava por incômodos. Fazia o possível para não guardar rancor.

Depois de um tempo, comecei a acreditar que as ações dos outros eram fruto de posturas minhas, e me sentia culpada pela dor que essas pessoas me faziam sentir. E me sentia culpada porque supostamente havia provocado essa ação por parte delas. Mas, quem olhasse, não via isso. Do lado de fora eu era imbatível e segura. Por dentro, estava sempre desmoronando.  Comecei a ranger os dentes enquanto dormia e a ter sonhos cada vez mais violentos. Roía as unhas e a pele dos dedos e também mordia a bochecha por dentro da boca. Em um dado momento, cheguei a desenvolver gastrite e notei que meu cabelo estava caindo mais do que o normal. Quem mais sofreu com isso foi minha mãe, que muitas vezes recebia reações desproporcionais, fruto de inúmeros estresses reprimidos. Como boa mãe, nunca deixou de me amar por isso, mas teve muita preocupação.  Também me reprimia um pouco, certamente porque vivia escutando gritos em cima de gritos, e me perguntava onde estava aquela criança educada que nunca levantava a voz. Essa criança estava ocupada sendo educada com o resto do mundo.

Resultado: eu mesma não me aguentei e fiz terapia. E foi preciso muitas horas de conversa para começar a me sentir confortável com meus sentimentos e confiante em mim mesma. O primeiro embate que eu tive com um namorado e precisei segurar o tranco para não ceder à pressão de me desculpar e acabar logo a briga foi um inferno para mim. Poucas coisas poderiam ser menos confortáveis. Aos poucos, fui me sentindo menos ameaçada pela raiva que poderia elucidar nas pessoas. Comecei a internalizar que precisava tomar meu próprio partido e defender minhas causas. 
Comecei a me preocupar menos com ser educada e mais com ser confiante. Às vezes chegava até a ser grosseira. E comecei a me sentir melhor. Notei que diálogos funcionam melhor do que ficar calada, mesmo que sejam desconfortáveis. E encontrei uma força para me impor onde achar necessário. Parei de me vitimizar para mim mesma e assumi uma postura de auto respeito.

E depois veio Lia, e minha coragem a autoconfiança cresceu em milhares de porcentos. Seja pela consciência sobre humana que eu tenho de que preciso ser um exemplo para ela, seja pelas mudanças que ela trouxe em mim. Não sei se, sozinha, ela teria sido cura para minha passividade, mas acredito que sim. Essa transformação de mulher para leoa quando se vira mãe é chocante. De toda forma, sou feliz que não esperei até Lia para mudar minhas atitudes. Feliz que já havia eliminado muitas das minhas dúvidas em relação a mim mesma quando ela veio ao mundo.

Às vezes as pessoas ainda estranham. E eu sou bem feliz em poder dizer que isso não me incomoda nem um pouco. Hoje em dia, não tem vergonha no mundo que me faça poupar uma reclamação. Ainda existe medo em me sentir culpada ou errada, mas ele fica bem mais distante. Às vezes saio tão abalada de confrontos que me tranco no banheiro e começo a chorar. Mas não recuo. Cansei de carregar anseios e receios e cansei muito de fazer meu corpo passar por tensão reprimida.


Quando penso nessa parte de mim, me pergunto se é uma questão de gênio ou se foi falta de incentivo enquanto estava crescendo. Talvez um pouco dos dois. E me pego sempre preocupada em mostrar a Lia que ela pode, e deve, se defender sempre. Principalmente por ser mulher, a imposição contra o abuso – físico, psicológico, moral - deve ser constante.  Mas como é delicado esse equilíbrio! Ensinar a uma criança que ela precisa respeitar a vulnerabilidade do próximo, contanto que não esteja agredindo ela de qualquer forma. Ajudar ela a controlar a brabeza em alguns momentos mas preservá-la em seu cerne durante toda a vida. O resultado de apagar esse fogo pode ser devastador. 

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Ciumentando



Minha menina anda crescida. Já come sozinha, passa xampu sozinha e  reclama sozinha também. Certo dia estava ajudando a avó a dobrar paninho quando ouviu o telefone tocando. A avó atendeu, e entre papos e risadas soltou o nome da amiga que estava do outro lado da linha. Cecília. Minha menina, sempre atenta, se voltou para a avó e com a voz toda braba reclamou: NÃO! Cecília é MINHA amiga!

A avó explicou, “Não, querida. É outra amiguinha. Essa Cecília é de vovó”. Não houve acordo. Chateada e possessiva, saiu do quarto e passou resmungando pela cozinha. Atravessou o quintal e chegou à nossa casa, onde encontrou o pai. Encarou-o e disse com firmeza, “Cecília é MINHA amiga!”.


O pai, sem entender, apenas concordou e assistiu enquanto ela apanhou o telefone e demandou: “Liga aqui pra Cecília”. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sobre delicadeza



Caminhando para casa, parei em uma praça e vi um casal de jovens sentados em um banco. Em dado momento, pararam de se beijar graças a um telefone tocando. Era do jovem, uma outra menina. Fiquei sabendo graças à saudação calorosa que ele estava berrando aos quatro ventos. E vi também a expressão rápida, quase imperceptível, de dor física que a jovenzinha que estava com ele soltou involuntariamente. Em uma fração de segundo ela se recuperou e ninguém no mundo poderia desconfiar que estava sentindo algo. Sua expressão era de normalidade total, um ar de feliz indiferença.  Levantou-se, comprou uma água e voltou para o banquinho. Ele havia acabado a conversa. Com um sorriso no rosto, ela perguntou quem tinha sido. Ele respondeu, ela sorriu, ele abriu o celular para checar se havia recebido mensagem. Vi ela se controlar para não olhar e forçar a cabeça para o lado oposto com uma naturalidade incrível, enquanto tomava um gole de água. Ele guardou o celular e voltaram aos amores. Logo tocou novamente, era outra mensagem. Não fiquei para ver o desenrolar, mas imagino que ela tenha continuado com sua segura naturalidade. Por chance, ela acabou na mesma parada e subiu no mesmo ônibus que eu. Estava com um olhar oco, como quem está arrancando farpas de dentro da pele e sofrendo com cada puxada de ar. Não estava chorando, mas estava visivelmente triste. Passei a viagem inteira olhando para ela.

Me vi nessa menina. Hoje em dia, olho e vejo todos nós nela. Os sofrimentos calados, a leveza forçada, todo um mecanismo de convencer ao público e a nós mesmos que não somos afetados por mediocridades.

Ao primeiro olhar, as pessoas parecem normais e completas, sem traumas e sem dores, esbanjando confiança e felicidade. Uma multidão de pessoas bem resolvidas, com relacionamentos saudáveis, milhares de amigos, zero preocupações e absolutamente nenhuma dívida. Um mundo de pessoas fortes, que não levam desaforo para canto nenhum. Pelo contrário, retrucam e saem de confrontos totalmente desabaladas.   

Essa persona é fácil de encarnar. Basta colocar um sorriso no rosto (irônico ou não), menosprezar tudo e fingir que nada pode magoar você. Você é blasé, você não se afeta, tudo bate no seu couro e faz cócegas. E a grande maioria de nós utiliza desses recursos para viver, supostamente, com o mínimo de cicatrizes emocionais possível. Se resguardando da vergonha, da exposição, desse sentimento de nudez da alma.

Essa persona pode parecer que facilita a vida. Nos exime da vulnerabilidade do ser. De mostrar nossos conflitos, inseguranças, usar o coração na manga e deixar os sentimentos transparecerem. Mais fácil do que se deixar sentir em público.

Mas não deveríamos querer fugir da nossa vulnerabilidade. Nossa humanidade é imperfeita, precisamos dessa falta de lapidação. Chorar, sentir raiva, sentir amor, sentir alegria com besteirinhas, esses e mais centenas de sentimentos que precisam ser repreendidos dia após dia são, na verdade, o que dá o sabor à experiência de viver. Ser emocionalmente desapegado não é benéfico para si e para o mundo que olha para você. Talvez pensar quinze vezes antes de falar o que  sente não seja o melhor conselho. Talvez falar o que está sentindo e esperar a reação sincera – positiva ou negativa – seja a 
melhor opção. Não é a mais fácil, mas é a melhor. E nem todos vão aceitar. Pessoas se assustam, não sabem como reagir e aproveitam a oportunidade para se sentirem superiores. Como se um sentimento fosse passível de tornar uma pessoa ridícula. Nenhum ser humano é ridículo. Ou melhor, nós todos somos ridículos. Não precisamos sentir vergonha disso.


Talvez a fortaleza emocional dos filhos que queremos criar esteja incutida nessa liberdade para sentir, expressar e se expor sem medo de sermos vistos como fracos. Crianças conectadas com seus sentimentos se tornam adolescentes mais confiantes e adultos mais corajosos. Pessoas mais generosas e suaves para com o próximo. Existe uma força que deve ser explorada dentro da fragilidade de cada um de nós.