segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Missão acadêmica

Nessa vida de pensar no futuro de Lia - e, mais precisamente, no futuro escolar dela já que esse é o futuro mais imediato - eu vejo como essa história de criar filho é difícil.

Primeiramente porque (fora Temer) encontrar uma escola nos padrões que a gente busca dentro de um preço aceitável, perto de casa e que não exija passar a noite e o dia numa fila de espera é uma missão. Dentro dessa lógica de educar crianças para o vestibular, a onda de escolas-cursinho que adota crianças desde o maternal tá uma praga na sociedade. Você junta com as opções religiosas e a limitação escolar de Recife é pra matar a pessoa. E o resultado é que as escolas que fogem minimamente de padrões tradicionais de ensino são uma verdadeira concorrência para vagas.  

Segundamente, e isso pode ser uma complicação que eu me imponho, mas ter uma escola que incentive o pensamento crítico com um viés de esquerda virou um critério. Eu percebo como isso pode fazer uma diferença na vida da pessoa. Minha mãe, conscientemente, me colocou em escolas não-tradicionais que tinham uma visão bastante aberta. Foi ótimo ter meus ensinamentos de casa compartilhados pelos professores e pela direção das minhas escolas. Fico só imaginando ser o único aluno numa sala de aula que não acha que bandido bom é bandido morto. Lá vem minha filha, que convive em movimentos sociais, já visitou quase todas as comunidades da região metropolitana do Recife, tem mais tias e tios gays do que hétero e canta musiquinha de resistência, estudar numa escolinha com coleguinhas e professores (principalmente professores) sem visão social. É o fim do mundo? Não. Seria ótimo evitar? Seria.

Terceiramente, quartamente, quintamente: desde quando não oferecer refrigerante e salgadinho pra crianças de 04 anos no lanche virou motivo de aplauso?!  Eu ouço as coordenadoras se orgulhando disso e penso se não é ÓBVIO que lanche coletivo não deveria incluir essas coisas?

Sextamente (na verdade, beeeem primeiramente): meu deus que medo que ela sofra bullying =(

A sensação é que a gente teve muita sorte com a primeira escolinha dela. A localização era conveniente, a pedagogia é maravilhosa, o preço cabe no nosso orçamento, as professora são amigas, a alimentação é natural e o espaço estava perfeito para uma criança do jardim. Foi a única escola que a gente visitou na época e já atendeu a todos os critérios e foram anos bem felizes. Eu sou muito grata por ter tido um começo escolar tão bom pra Lia. Nenhum arrependimento. A vida é que vai trazendo novos desafios.


E eu sou muito chata mesmo.