terça-feira, 30 de abril de 2013

Que coisa!

Por que criança tem que ter tanta creca?! Acaba uma dor de cabeça, já começa outra. Primeiro tivemos uma gripe cheia de catarro e tosse. Melhoramos da gripe e fomos tomar vacina, o que deixou neném completamente derrubada. No mesmo dia que tomamos vacina, tivemos uma pequena reação alérgica e ficamos com o corpo cheio de manchinhas vermelhas. A alergia melhorou dentro de uma hora e não foi preciso tomar remedinho, mas as dores no corpo, a febre e a moleza causadas pela vacina duraram dois dias. Claro que não dormimos. Passamos o fim de semana bem e, chega segunda feira, Lia me aparece com um calombo molinho na cabeça. Ela não caiu, então de pancada não era! Apertamos, esfregamos, amassamos, e não tivemos nenhuma reação de dor. Hoje, terça feira, o calombo diminuiu - deve ter sido alguma picadinha de mosquito ou uma íngua. Ótimo! Mas eis que meu neném acordou com o nariz escorrendo e espirrando: rinite (o nariz ela puxa do pai).

E a isso tudo somamos a agonia com os dentinhos, que ainda não romperam a gengiva mas estão deixando tudo inchado e dolorido.

Deus me livre, imagina quando essa criança estiver andando!




terça-feira, 16 de abril de 2013

Aia

16 de abril, a primeira palavrinha pronunciada, com muita convicção.

Mamãe estava bebendo água e, como sempre, intercalando goles com a palavra "água", pra você aprender. Você me olhava e sorria, abrindo a boca para tentar formar o som da letra "a". Hoje, pela primeira vez, saiu um som. Mas não saiu só o "a" que eu esperava. Saiu uma palavra inteira, falada da maneira mais linda que um bebê poderia conseguir. Aia.

Ofereci o copo a você, que estava com sede, e prontamente deu um gole generoso. Depois tirou a boquinha da borda, sorriu pra mim e falou, em alto e bom tom: AIA! Eu olhei pra você e soltei um gritinho de felicidade, enchendo suas bochechinhas gordas de beijos. Você me empurrou: queria mais água! Ofereci mais um gole, que você aceitou. Quando acabou, eu mesma falei: "água!". E você riu e respondeu "aia!".

Quando acabou a água, corremos pra ligar pra papai pra contar a novidade, mas você não queria mais falar. Estava ocupada mordendo o fio do telefone. Só voltou a falar 'aia' mais tarde, quando viu sua avó com um copo na mão. Olhou pra mim, e, desta vez mais suavemente, falou novamente sua primeira palavrinha.

Mais tarde, ao descer com Vovó Lininha pra passear, resolveu soltar a língua mais algumas vezes, provando para quem estivesse por perto que agora você é uma menina eloquente.

(Mas não pense que paramos de esperar pelo 'papai' e 'mamãe', viu?)






terça-feira, 2 de abril de 2013

Desilusão

Tanta coisa pra escrever e tão pouco tempo. As atualizações sobre nosso feijãozinho estão atrasadas, tantas novidades lindas, tantas histórias fofas. É realmente algo inexplicável acompanhar o desenvolvimento de uma criança. Eu achava que, por vê-la todos os dias, não notaria pequenos avanços nesse desenrolar de uma vidinha tão recente. Mas claro que eu noto. Até a mudança nos gritinhos, as novas caretas, a nova maneira de tomar banho, nada passa despercebido. Lia crescendo é uma coisa linda de se ver.

O que me leva a uma reflexão deprimente: a cada dia, eu sinto mais que Recife não é o lugar para ela crescer. Sim, aqui vivem nossas famílias e nossos amigos queridos. Aqui está nossa história, nossa vida inteira e nosso conforto. Mas as situações que eu presencio no dia-a-dia - que antes eu ignorava na maioria das vezes - agora ficam na minha cabeça, cantando pra mim: "é assim que sua filha vai viver?". Eu sempre fui defensora de Recife. Eu amo esse lugar, eu sempre quis voltar a morar aqui e eu nunca me arrependi. Mas desde que o bebê nasceu, isso se tornou algo que vive na minha cabeça, uma preocupação constante.

Generalizando meus desgostos: os pequenos atos de corrupção que acontecem a cada minuto de cada dia, praticados por pessoas físicas e jurídicas. A desonestidade. A falta de educação, com as pessoas e com o ambiente. A falta de limpeza. A falta de estrutura. A falta de segurança. A falta de amparo por parte do Estado. A falta de recursos. A falta, a falta, a falta!

O nível de aceitação com atitudes machistas me assusta. É como se fosse uma coisa normal: passou por um grupo de homens, recebeu assobios e comentários. Eu foi agraciada com "elogios" enquanto estava indo pra padaria, segurando Lia no colo, vestida com uma calça velha, folgada e manchada de água sanitária. Grávida, no metrô de São Paulo, uma aberração da humanidade cochichou nojentamente ao meu lado: "aaah se essa barriga fosse minha...". Andando de braços dados com meu avô, andando sozinha, andando bonita, andando feia, voltando da faculdade descabelada... não há limites! E não existe a opção de reclamar. O medo de retribuição violenta é muito grande (e válido). A depreciação não precisa ser tão óbvia assim: quantas pessoas - homens e mulheres - você conhece que valorizam mais a opinião, a voz, de um homem do que a de uma mulher? É mais que comum pedir pro irmão, pai, namorado, tio, amigo, resolver um problema imbecíl porque o negociante acha que pode enrolar a mulherzinha boba. E o deboche com meninas é tão aceito que já virou lugar comum. E claro que liberdade sexual é uma ilusão. Pensando bem, a dificuldade em respeitar a sexualidade alheia é algo que me incomoda bastante. E isso vale pra todos os gêneros e orientações.

Dificuldade de respeitar, portanto, é meu maior problema com Recife. Dificuldade de respeitar sexualidade, raça, classe social, nível de educação, nível de cultura, religião... NADA me faz acreditar que os direitos humanos da minha filha vão ser respeitados.

A violência também me assusta, cada dia mais. Mentira, me assustava antes. Agora me apavora. Me apavora o fato de estar a mercê da sorte. De não cruzar um caminho errado, de ficar dependendo de um sistema falho, que não pode proteger minha família. A escolha é entre viver nessa preocupação eterna e, para não tolher uma vida, colocar seus amados nas mãos de deus ou enclausurar uma infância, uma adolescência, sempre regando o medo de que algo possa acontecer.

Agora para uma preocupação mais leve: vizinhos inconvenientes! Antes era até engraçado. Era chato...mas era engraçado. Agora não há mais humor, é só uma dor de cabeça sem fim. Não é culpa deles, coitados. As pessoas vivem tão perto que respeitar o espaço *sonoro* de cada um é uma missão. Eu não quero ficar ouvindo brigas alheias, palavrões, gritos de torcedor bebado, música ruim, batida de martelo, construção, carro barulhento todo santo dia. Eu juro que um dia vou jogar um ovo no próximo que acordar meu bebê do cochilinho dela.

Eu acredito que é preciso lutar para mudar as coisas. Que não devemos fugir para o conforto e deixar as mudanças a carga do outro. De outro em outro, nada muda. Meu dilema é que essa ideologia bate de frente com o bem estar que eu quero para minha filha, e que eu quero pra já! No fim das contas, Lia vem primeiro. E minha cidade amada acaba não sendo mais tão amada assim.