Nessa vida de pensar
no futuro de Lia - e, mais precisamente, no futuro escolar dela já que esse é o
futuro mais imediato - eu vejo como essa história de criar filho é difícil.
Primeiramente porque
(fora Temer) encontrar uma escola nos padrões que a gente busca dentro de um
preço aceitável, perto de casa e que não exija passar a noite e o dia numa fila
de espera é uma missão. Dentro dessa lógica de educar crianças para o
vestibular, a onda de escolas-cursinho que adota crianças desde o maternal tá
uma praga na sociedade. Você junta com as opções religiosas e a limitação escolar
de Recife é pra matar a pessoa. E o resultado é que as escolas que fogem minimamente
de padrões tradicionais de ensino são uma verdadeira concorrência para vagas.
Segundamente, e isso
pode ser uma complicação que eu me imponho, mas ter uma escola que incentive o
pensamento crítico com um viés de esquerda virou um critério. Eu percebo como
isso pode fazer uma diferença na vida da pessoa. Minha mãe,
conscientemente, me colocou em escolas não-tradicionais que tinham uma visão
bastante aberta. Foi ótimo ter meus ensinamentos de casa compartilhados pelos
professores e pela direção das minhas escolas. Fico só imaginando ser o único
aluno numa sala de aula que não acha que bandido bom é bandido morto. Lá vem
minha filha, que convive em movimentos sociais, já visitou quase todas as
comunidades da região metropolitana do Recife, tem mais tias e tios gays do que
hétero e canta musiquinha de resistência, estudar numa escolinha com
coleguinhas e professores (principalmente professores) sem visão social. É o
fim do mundo? Não. Seria ótimo evitar? Seria.
Terceiramente,
quartamente, quintamente: desde quando não
oferecer refrigerante e salgadinho pra crianças de 04 anos no lanche virou
motivo de aplauso?! Eu ouço as
coordenadoras se orgulhando disso e penso se não é ÓBVIO que lanche coletivo não
deveria incluir essas coisas?
Sextamente (na verdade, beeeem primeiramente): meu deus
que medo que ela sofra bullying =(
A sensação é que a
gente teve muita sorte com a primeira escolinha dela. A localização era
conveniente, a pedagogia é maravilhosa, o preço cabe no nosso orçamento, as
professora são amigas, a alimentação é natural e o espaço estava perfeito para
uma criança do jardim. Foi a única escola que a gente visitou na época e já
atendeu a todos os critérios e foram anos bem felizes. Eu sou muito grata por
ter tido um começo escolar tão bom pra Lia. Nenhum arrependimento. A vida é que
vai trazendo novos desafios.
E eu sou muito chata
mesmo.