Eu vivo me perguntando se existe mesmo tanta
necessidade dessas dezenas de regras que impomos às crianças. Eu vejo muito pai
reclamando que só vive falando 'não' pros filhos, que a criança é desobediente
e trelosa, mas não dá uma paradinha para perceber que muitos desses 'nãos'
poderiam ser evitados. São 'nãos' que, muitas vezes, não tem lá muito sentido.
(Não vou nem entrar no caso da palavra 'trelosa' ser tida como negativa, porque
pelamordedeus. Queira filhos trelosos! Queira filhos curiosos!).
Um exemplo
prático com uma experiência que vivemos lá em casa: Lia gosta muito de brincar
com panelas. Ela sente o friozinho do material na mãozinha dela, escuta o som
quando a tampa é batida, coloca a boca e sente o gosto. É um momento de aprendizagem
para ela que, de quebra, mantém ela distraída durante um bom tempo. Porém,
dentro de alguns círculos familiares nossos, existe a regrinha de que não
pode mexer nas panelas. Portanto, toda vez que Lia tenta pegar uma cuscuzeira
nas casas desse círculo, escuta um lindo e ressonante NÃO, seguido de uma
arrancada da panela de suas mãos. Revoltada, eu já perguntei diversas vezes o motivo dela
não poder mexer nas panelas e a resposta nunca foi específica: "Porque não
dá certo", "Porque faz bagunça", "Porque eu não
quero". Sim....mas POR QUE? Porque incomoda ter que guardar duas panelas
depois da brincadeira? *Por sinal, uma ótima oportunidade para ensinar a
criança a guardar suas coisas.* Porque você escutou isso a vida inteira e nunca
teve o direito de contestar? E, portanto, é mais fácil levar isso adiante como
dogma, sem pensar na justificativa plausível?
Gente, a vida é tão mais fácil quando a gente não se limita
a um 'não'. Dê a liberdade do seu filho explorar o mundo! Deixa ele fazer
bagunça, deixa ele se sujar. Deixa ele comer comida que caiu no chão, rolar com
os cachorros, passear de pijama. Nosso mundo fica muito mais positivo quando a
criança tem direito de ser criança e quando a gente se liberta dessa
necessidade de criar crianças quietas, organizadas e contidas para provar que somos,
de fato, bons pais. Essa visão simplista e preguiçosa de que negar e castigar é
equivalente a educar nunca vai fazer de você um bom pai.
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